Abrir gavetas é libertar a matéria estacionada de vidas que cabem em uma só. Significa dar ao pó a chance de sair ao invés de entrar. Abrir gavetas é a arte de saber aguardar quando a vida te oferece um trampolim para pular. Encher a mão de areia e sentir os grãos escorregarem. É assoprar o amendoim para todas as cascas voarem.
Saber escolher, saber responder. Aprender a deixar pra trás. A despedir. A abraçar sem esperanças de reencontrar. É dizer adeus com o coração cheio de dor sem saber se há depois. Às vezes é melhor embarcar. Às vezes é melhor perder a hora. Às vezes é melhor ficar de longe e ver as partidas. Aprende-se muito quando faz sentido deixar ir.
Aproximar-se de semelhantes. Somar idéias e ideais em prol de algo grande, que cresce junto. Dialogar em línguas que se entendem. Dizer meias-palavras e ganhar frases inteiras em troca. Unir o que se acredita com o que pode acontecer. Dizer não quando algo diz que é melhor assim, mas também saber dizer sim.
Um belo dia a gente sente que o mundo parou. Pararam os carros nas ruas. As pessoas pararam. Estão parados os olhares. Está tudo coberto por uma casca que inibe a livre expressão. Nesse momento, compreendemos que mexer os olhos faz os olhos do outro também mexerem. Se dançarmos, o outro dança. Se caminharmos, o outro caminha. E podemos dar o ritmo de nosso passo ao mundo. Ao nosso mundo.
Abrir gavetas muitas vezes abre portas. Traz pra vida a poesia em forma de mãos. Mãos que se atam num enredo em que faz todo sentido bater o carro porque a mente cansou de dirigir e foi ali admirar um ipê.
2 comentários:
ADOREIIIIIIIIIIIIIIIIIII jornalista!!! Vou ler todos com calma depois... muito bom mesmo...
Saudades de vc!!!! Vamos encontrar hj no Na Venda???????????
Beijosssssssss,
Marceleza... Marcelinha(Mabel)
Linda.
Tem qualquer coisa aí sobre encontros, cumplicidade e reconhecimento que faz todo o sentido pra descrever o que tem sido você na minha vida esses últimos tempos. Se observarmos os desenhos que a cera dos candelabros produzem numa noite Moulin Rouge, a outra observa... Gracias, cariño!
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