Tocando o ar compreendo o espaço que ocupa meu corpo. Se estico mais o braço, alcanço ainda mais partes de mim. Quando eu me abraço sinto que existe em mim, muito mais do que eu posso abraçar.
O mundo em minhas mãos. O mundo em mim. Não adianta olhar para trás. Não enxergo suas escápulas. Não vejo o quão torta anda sua coluna. Sinto-me atada pelos pulsos quando meus olhos estão vendados.
Assopro suas nuvens para enxergar a imensidão azul. Daqui do alto, posso jogar bola de gude para fazer o sol nascer. Posso dar novas cores ao céu para o pôr-do-sol ficar alaranjado. Posso fazer a Terra rodar mais rápido para contemplar mais vezes o espetáculo do dia. E da noite. E do dia. E da noite.
O mundo foi dormir e me tirou o sono. A noite caminha de mãos dadas com o meu travesseiro. Os lençóis estão gelados porque a cama está vazia. Deitar não é dormir. Dormir é acordar. Acordar é pôr-se de pé no mundo e para o mundo. Às vezes dá medo de pisar com o pé errado. Às vezes dá medo de deitar e ficar deitado.
Tem noites em que eu prefiro os dias. E tem dias em que eu quero devorar a noite com uma mordida faminta. Quero sentir o gosto das estrelas e deixar a lua cheia, minguante.
Enquanto o mundo gira, fico louca de tontura. Finjo que a minha náusea é fruto da rotação, enquanto guardo pra mim o sabor amargo de uma embriaguez que me toma os sentidos. Engano-me a cada passo para não me culpar pela mesquinhez do mundo. O peso que paira sobre os ombros já não me dói como antes. Para ficar triste, basta estar feliz.
3 comentários:
Fantástico!
Que produndo.. essa vou levar tempo pra digerir.. muito bom!
você é doidinha mesmo ein?
hehe brincadeira
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