quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Nem toda briga começa com a escolha de onde apertar o tudo de pasta dental


E aí ele vai e palita os dentes.

E a pouca ou quase inexistente intolerância, carinho e compreensão que havia entre vocês é engolida junto com a carninha que se desprendeu da gengiva na cutucada. E até o amor é engolido a seco e precisa de um gole de coca-cola para descer.

Assim se estabelecem as relações de quem não nasceu para didivir. É fácil dizer que o outro é difícil, que se veste mal, que escolhe as palavras erradas quando está na sala com seus pais. É fácil criticar a forma com que come, dirige, liga a tevê.

Existe entre nós algo de oculto que boicota as relações. Existe um diabinho que nos incita a ser intolerantes, exigentes e juízes do jogo da vida. Aprendemos a viver do nosso jeito, a construir o mundo sob o nosso ponto de vista e nada do que o outro traga acrescenta. Pelo contrário, atrapalha.

Vamos dando o nosso tom à música de nossa existência e, quando menos esperamos, dançamos sós, sem um par para carregar a rosa vermelha nos lábios.

Quando fechamos as janelas e criamos formas de viver que não consideram o outro, vão-se os amigos, vão-se os inimigos, vão-se os que sequer chegaram perto e vão-se, também, os amores. Aí, até o lugar onde cada um escolhe apertar a pasta de dente vira problema. E vira problema a escolha do filme na locadora, e vira problema onde ir no fim de semana. Coisas que poderiam ser prazeres edificados com os tijolos de cada um passam a ser um quebra cabeça de peças que não se encaixam. Quanto mais esforço, mais risco de quebrar.

Se a gente não cuida do outro e dos espaços em que o outro pode nos acessar, corremos o risco de fazer parte do entulho que nos rodeia. Fazendo parte da bagunça, fica difícil de ser encontrado.

A vida não-dividida não merece ser vivida.

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