segunda-feira, 19 de março de 2012

Os 29: a retomada!


Imaginei que aos 29 eu estaria casada, morando em uma casa linda. Talvez, com dois filhos e já grávida do terceiro. Certamente já teria viajado o mundo, conhecido o Taiti e toda a América do Sul (mesmo que tantas viagens fossem incompatíveis com três crianças). Não sabia muito bem o que ia estar fazendo profissionalmente, mas sabia que ia ser bem-sucedida. Já podia imaginar o meu guarda-roupa cheio de roupas assinadas por estilistas famosos e a recepção do meu escritório (não sei de quê) com cadeiras Barcelona e quadros do Volpi. Também achei que as roupas dos meus 18 ainda iam estar cabendo porque, é claro, eu jamais descuidaria do meu peso (essa lição era para ter aprendido quando mesmo?).

Aí eu acordo no dia 17 de março de 2012. Olho para a parede berinjela do quarto que não fica na minha casa linda, mas sim na casa linda dos meus pais. Onde foi parar o meu sucesso profissional? Nos meus sonhos adolescentes eu não imaginava que eu ia dar um pause na vida urbana e morar dois anos na Chapada Diamantina. E nem que quando eu voltasse ia acabar fazendo outra faculdade. Aos 29 estou começando uma nova profissão. CO-ME-ÇAN-DO! O que isso significa? Atribuições de iniciante, responsabilidades de iniciante e salário de iniciante.

Uma olhada rápida no espelho entrega que eu já não tenho mais vinte e poucos. A pessoa dá uma amolecida, sabe? Aí eu me lembro das minhas primas mais velhas contando que algumas coisas mudariam no meu corpo quando eu chegasse perto dos 30. Lá dos meus 25, eu não poderia acreditar que a gravidade iria agir tão rápido assim. Aos 29, tudo faz sentido.

O retorno à natação também me fez lembrar que meus 19 ficaram para trás. Faltou fôlego e disposição. Quarenta minutos na piscina me nocautearam e confundiram a minha mente por uma tarde inteira. Haja pulmão! É um cansaço que você não reconhece. Parece que tem alguma coisa errada, que você está doente. Calma, Thaís, a única coisa que tem de novo é que você nunca fez natação aos 29.

A parte boa é que sobram lampejos da lucidez mais madura que a sua curta vida pôde te proporcionar. É um momento em que você entende o que as pessoas mais velhas querem dizer com a frase "ah, se eu tivesse a sua juventude e a minha sabedoria"... Não que você não seja mais jovem. E nem que já tenha sabedoria. Mas é um passo a mais na evolução, né? É uma idade em que dá para ser menos impulsivo e mais consciente na hora de tomar decisões. O coração já não palpita por qualquer coisa e não é qualquer bobeira que você disse pra alguém que te faz perder uma noite de sono.

O fim do retorno de Saturno – para quem não sabe, esse Tsunami emocional e energético acontece na vida das pessoas em ciclos de 28 anos – parece ter chegado ao fim. Mas o mergulho em uma nova ladainha de "quem sou eu?" e "onde estou?" faz você chegar aos anéis do planetinha que vai te visitar aos 56. É tanto questionamento que a pessoa faz a fase dos porquês parecer pinto. O bom é que se espera cada vez menos de fora. O ruim é que a pressão interna aumenta demais.

Já não conto tantos amigos quanto antigamente (salve, Osvaldo Montenegro!). Mas sei bem o que esperar de cada um e deposito em cada um deles muito menos expectativa. O saldo é positivíssimo: eu sou mais eu e eles são mais eles. Ninguém fica esperando que o outro se encaixe num modelo. Todo mundo ganha!

O retrato dos meus 29 é o de uma mulher que ainda tem dificuldade em se chamar de mulher. Vira e mexe, ainda se refere a si mesma como garota. Vibro quando uma saia que comprei no começo da (primeira) faculdade entra em mim. Ainda tenho calças-meta no meu guarda-roupa para "o dia em que eu emagrecer". Ainda acredito no amor. Mas não quero mais saber de paixão. Meu coração só quer a sorte de um amor tranquilo (viva Cazuza!) – com sabor de lichia mordida, por favor!

Ainda acredito na minha casa linda, no meu casamento lindo, no meu escritório lindo e nos meus filhos lindos. Mas tenho parâmetros muito mais reais para cada um desses sonhos. Sei onde quero chegar sonhando e sem sonhar. Sei onde posso chegar por correr atrás. Deixo um pouco para a vida me proporcionar, afinal, saber de tudo e controlar tudo deixa o futuro muito sem graça. Aos 29 sou feliz, mas não sou feeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeliz, como mandam os livros de auto-ajuda e como profetizam as revistas com mulheres impecáveis e infalíveis – até a segunda página.

Aprendi que me aceitar como sou é muito melhor do que lutar para ser como eu acho que deveria. A vida não é surpreendente, nós é que somos. Feliz ano novo pra mim!