quinta-feira, 16 de abril de 2009

Bel far niente


Tem gente que diz que é coisa de quem não quer nada da vida. Eu digo que é coisa de quem quer mais, muito mais do que uma vidinha ordinária. Acordar sem pressa, ter tempo pra ler, pros amigos, pros priminhos e pro que der e vier não me parece, propriamente, um problema.

A vida é feita de pedacinhos. Pedaços do dia, das horas. Pequenos acontecimentos, grandes sentimentos. Sem isso fica sem graça, dá preguiça de acordar, dá tristeza quando a segunda-feira tá pra chegar.

É um abraço a mais, uma hora a menos de stress, um trabalho perto de casa, momentos livres pra brincar com os filhos, o controle remoto na mão à sua disposição, sem pressa. Pode ser a hora do almoço, aquela comidinha gostosa, o fim de tarde com os colegas, ou uma chuvinha debaixo do cobertor.  A música boa durante o engarrafamento, o prato trocado no restaurante que é bem melhor que o pedido, uma visita de última hora. O ingresso ganho quinze minutos antes do show carérrimo, a passagem de promoção pra uma viagem da última hora, a grama verde do jardim. O tempero da vovó, a aula de natação, o banho de cachoeira. Uma risada gostosa, um telefonema no meio da tarde, um beijo daqueles que tira o cansaço. 

Os prazeres simples são o combustível para a vida, que não fica tão simples mesmo com muito esforço. A gente desapega, consome menos, muda a rotina, melhora a alimentação, separa o lixo, recicla papel, dá mais carona. A vida não fica simples, mas fica mais leve, mais gostosa, mais repleta de coisas que fazem bem ao que nos é essencial.

Dar valor às pequenas coisas e saber lidar com as agruras do dia-a-dia com sabedoria, paciência e alegria de viver acaba atraindo pessoas e acontecimentos que acrescentam mais e mais àquilo tudo que já vem dando resultados. Coisas e pessoas que são o adubo pra gente frutificar mais genuinamente, brotando coisas que vem de dentro, lá da alma da gente.

Sem a beleza das coisas simples, fica sem sentido correr atrás do dinheiro. Dinheiro pra gastar com o quê, se não sobra tempo, nem ânimo, nem tesão em viver? Dinheiro pra quê se não há encontros, sorrisos e coração tranquilo? Dinheiro não vira alegria da noite pro dia. Dinheiro é bom, todo mundo gosta, mas não acalma choro de criança, não faz amizade, não vira amor.

Como diria um sábio amigo meu: prefiro ter tempo pra correr atrás do dinheiro, do que ter dinheiro e não ter tempo pra correr atrás do tempo.

Vamos acordar pro mundo, despertar pra vida e fazer alguma diferença aqui e agora. Nem que seja pra nós mesmos. Quando estamos bem, dividimos esse sentimento com tudo o que nos rodeia.

Não dá pra ser feliz só sábado e domingo...

3 comentários:

Kelen disse...

E esse Bel far Niente nada mais é do que o mínimo espaço possível entre um momento feliz e outro. O maior problema é que na maior parte das vezes deixamos essa felicidade nas mãos de outra pessoa quando os maiores responsáveis por ter ela somos nós mesmos.

Rüsben disse...

Excelente, Thaís.
Me identifiquei muito com esse texto. Tem muito de Zen nele, e o que você escreveu tem sido minha mentalidade esses dias.
Abraço!
Rubens

Nevinho disse...

Interessante. Todos precisamos "fazer a diferença". Mas também sabemos que cada um é diferente e a seu único modo representa algo para alguém. Então o que queremos mesmo? Acho que ser reconhecido e ser legitimado pelo outro. Sim, acho que é isso. Quero dizer que sou amigo da KK que me indicou este blog. A KK é uma amigona, "das antigas". Estou administrando um site wiki http://sextapoetica.com.br. Ela é uma das responsáveis pela idéia. Abraço, Nevinho