sexta-feira, 8 de maio de 2009

Amar é...


Ainda não te contei que eu sei, que eu sempre soube, que você desligava o alarme logo que ele tocava só pra eu dormir mais um pouco. Você corria com as mãos apressadas a apertar o botãozinho que me rendia mais alguns minutos de paz antes do dia começar. Eu sempre achava que o despertador não funcionava, tamanho meu estado de torpor ao abrir os olhos junto com o apontar do sol, e você sempre foi a guardiã dos meus primeiros minutos do dia.

Assim como eu sabia que você cochichava no ouvido da sua mãe para ela não colocar coentro na comida só porque eu não gostava. Eu fingia que não ouvia para te dar o prazer da surpresa e para não alongar sua resolução rápida com sua mãe. E lá vinha a travessinha cheia de coentro picadinho pra cada um colocar na sua comida e eu não precisar guardar no cantinho do prato as folhinhas verdes que tanto desagradavam o meu paladar.

Eu sempre soube que seus carinhos mais incisivos quando íamos ao cinema eram só uma forma de me acordar delicadamente de um cochilo no meio do filme sem ter que confessar que me viu dar uma pescada e fechar os olhos no meio do mar de gente. Você me poupava da vergonha de admitir que eu havia dormido durante a sessão, já longa demais para o meu cansaço.

Eu já desconfiava que você tinha um truque para comprar minhas roupas e nunca errar. Até que eu te flagrei medindo o cós da calça jeans no seu pescoço e calçando um sapato alguns números menor para entender se a fôrma era grande ou pequena. Você descobriu as minhas medidas no seu corpo para me poupar das agonizantes tardes dentro de um shopping center.

Naquela tarde que eu te vi saboreando um prato de feijoada com especial atenção ao feijão preto, entendi que o feijão carioquinha de nossos almoços ao longo dos muitos anos eram um renúncia ao seu grão favorito. Você gostava mais do preto. E eu gostava mais do marrom. E minha vontade de impôs sem ao menos eu saber que era mais um de seus agrados.

Teve o episódio do relógio do carro adiantado em alguns minutos para me dar a sensação rara de chegar na hora. Meus atrasos consumiam um bocado da minha tranquilidade, e o relógio com algum avanço nos minutos, me fazia ser pontual mesmo sem querer. Você mexia no relógio sem me contar, e eu acabava chegando na hora certa, mesmo achando que estava atrasado.

Sem falar das noites em que dormi com a televisão ligada e o meu corpo todo entrelaçado ao seu. Você se desvencilhava das minhas pernas pesadas, retirava delicadamente o controle de minhas mãos e eu sequer acordava.

Você cuidava de mim até quando eu não notava. Mas eu sabia que tinha sempre ali uma mão pronta a ser estendida quando o meu passo vacilasse. Pequenos gestos que se multiplicavam em grandes sensações.

Amar pode ser simples...

2 comentários:

Sebastian. disse...

[b]

Umas das coisas mais lindas que já li...

Anônimo disse...

também...
:')