terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Eu venho sempre aqui


O sol nasce todos os dias. Redondo ou quadrado, não importa, ele não perde a hora do café nem o canto do galo. A cabeça no travesseiro ouve o despertador ao longe. Os olhos teimam.

Acordo ao meu lado todos as manhãs. Minha inseparável companhia. Desejo-me bom dia sem dizer uma só palavra. Penso em algumas frases, alguns afazeres. Agradeço e me levanto.

Escovo os dentes e me olho no espelho. Essa também sou eu. É mais uma das partes de mim. Conto-me os sonhos da noite. Assunto não me falta.

O banho leva embora o silêncio. A mão não alcança as costas. O corpo ensaboado. Falta um pedaço. Estranha a sensação de não poder tocar tudo o que há em mim.

Abro os armários. A porta do alto, só alcanço com uma cadeira. Escolho um vestido com cheiro de guardado. Tenho que trocar. Não consigo fechar os botões virados para trás.

Sinto-me única, não só.

Estou sempre aqui. Venho sempre aqui. Visito-me como se fosse a primeira, como se fosse a última vez. Invento-me. Reinvento-me. Não há fuga desta condição.

Às vezes quero me abraçar. Quero me contar os meus segredos, quero dividir os bons momentos. Quero poder estar presente para não perder nada.

Em outras, quero correr. Quero tapar os ouvidos, quero ficar surda para não ouvir minhas vozes. Quero fugir um pouco da única pessoa que não pode fugir de mim.

Só eu sei o que é ouvir meu coração bater.
Só eu sei o que é ouvir tudo aquilo que eu não quero dizer.

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