domingo, 28 de fevereiro de 2010

Madrugada minha


Na minha madrugada cabe uma infinidade de coisas. Cabe a vontade de querer. Cabem os travesseiros de dormir. Cabe o corpo quente.

A madrugada é grande. Cabem os meus livros, as minhas vertigens, os meus anseios, os meus sonhos.

Para não perder o sono, sonho. Para que não me tire o sono, sonho. Vejo você.

A cama, grande. Eu e ela nos preenchendo de espaço. Eu era apenas um.
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Éramos um. E a cama, grande, emoldurava nossos corpos. Eu e você nos preenchendo sem espaços.

Os apaixonados transformam seus dias em espera e suas noites em testemunhas. Amam-se ao comer, ao dormir e ao acordar. Amam-se a distância. Nutrem-se de paixão. Seu alimento é a certeza do encontro.

A paixão alegra, vibra, empolga.

Não quero me apaixonar por você. Não quero perder a fome, as noites de sono. Quero de você o amor dos bichos, dos livros, dos livres. Não quero emagrecer de saudade, de fogo, de sede. Quero me livrar do medo, do receio, do ciúme. Não quero me apaixonar por você. Quero de você os beijos, os lampejos da sanidade que um dia eu tive. Não quero adoecer de raiva, de ódio, de mágoa. Quero me salvar dos freios, das dores, dos desejos. Não quero mais me apaixonar. Só por você.

A paixão consome, exige, liquida.
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Éramos dois. Uma cama para corpos que se repeliam até os limites de suas bordas. Sinto-me emoldurada. A cama não passa de passe-partout de dor que transforma em poesia estanque a musa que um dia fui pra ti.

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