domingo, 7 de março de 2010

Fita branca


Encontros não são propriedade. Acontecem para que saibamos que somos feitos de doses. Precisamos nos medir para não exagerar ou faltar. O remédio só faz efeito se ministrado de forma precisa.

É como o suco que acaba de sair do liquidificador. O canudo suga o líquido pesado, embaixo. E a ânsia em sorver a espuma tira a graça do ritual. Perde-se a leveza pela pressa.

Entrar em uma nova órbita é passear por paisagens de quadros diferentes. O artista escolhe as cores e nossos olhos seguem o horizonte. Não há regras para a criação. Inspirar-se é o melhor guia. A natureza só é morta para quem não gosta de caminhar.

Os encontros não escolhem dia. Nem hora. O lugar é o cenário. Não vai haver claquetes e nem ensaio. Roteiro é improvisar.

Os textos não podem (e não devem) ser decorados. A espontaneidade é o limite. Falar é juntar palavras. E palavras nada mais são do que letras jogadas ao vento que resolveram se dar as mãos.

Nem todo domingo de chuva, chove. Nem todo corpo cansado pede pijama. Nem todo filme comprido é longo. Nem todo gesto tem intenção.

Nem sempre se chega à polpa da fruta sem enfrentar os espinhos.

Conversa gostosa tira o sono. Mata de alegria e não morre assim tão cedo. Fica impregnada, amarrada, passeia colada com a gente como uma braçadeira de capitão. Uma fita branca amarrada no braço. Ou uma vermelha no dedo para não esquecer que a vida acontece do lado de lá da janela. Quem quiser, que pule.

Minhas palavras favoritas moram no fundo do copo, perdidas na espuma. Fico me policiando para não engolir.

3 comentários:

Marcelo M disse...

Que lindo seu mundo interior! Que linda a alma que mora dentro de teu corpo!
Nesse domingo chuvoso e meio tristonho, suas palavras trazem uma brisa de contentamento que me invade o espírito...
Dá até vontade de trocar livro e edredon por pipoca e cinema.
Sozinho mesmo. A brisa vale!

Ju disse...

Encontrei no seu texto as minhas respostas. Obrigada!

Valentina disse...

gostei tanto.