domingo, 28 de dezembro de 2008

Isso não é um post de ano novo...


Janeiro de 2009. A contagem regressiva já começou. Faltam apenas mais 3 dias. Ano novo chegando. Novas expectativas, sonhos e perspectivas. Tudo novo, de novo. Mais um ano inicia-se com listas e mais listas de resoluções para brindar a nova data. Listas de planos e planilhas. Dentre elas, a temida reforma ortográfica que foi sugerida pela primeira vez lá nos idos anos 90 e passa a vigorar a partir do primeiro dia do ano. É a tal reforma de que ouvimos falar há tempos e sempre achávamos que não passava de uma lenda. E agora, contamos as horas que nos restam ao lado de acentos e sinais tão queridos que antes, sempre bem-vindos, passam a ser tratados como artigo desnecessário. O ano novo está quase aí. E nada me tira mais do sério do que o medo de perder a tranquilidade quando a minha tranquilidade perder o trema.

Os nossos heróis continuam com seu acento, mas seus atos heroicos, perdem o sinal gráfico. As nossas ideias já não terão mais o tracinho inclinado sobre a letra "e". O microondas perde um "o" e ganha um hífen. Agora só vale esquentar comida no micro-ondas, bem como andar de micro-ônibus. Enquanto isso, paraquedistas de todos os países lusófonos terão que ficar atentos quando abrirem seus paraquedas e virem que sumiu alguma coisa. Ou melhor, duas. No fim de semana vai ficar sempre aquela sensação de que está faltando algo, enquanto no mundo cor-de-rosa, tudo permanece do jeitinho que está. Quando adentrar a antessala de alguém, lembre-se que é de bom tom exaltar o autorretrato do anfitrião, mesmo notando que ele é adepto de um bom antirrugas e um frequentador assíduo de exames de ultrassonografia. Se ele parecer antissocial, não se preocupe, o pato assado ficou extrasseco e, suprassensível que é, o dono da casa deixou uma ultrarromântica lágrima escorrer. Se você não acredita em contraindicação, cuidado quando tiver que, dirigindo seu carro semiautomático numa autoestrada, falar com algum mandachuva que está indignado porque as segundas-feiras permanecem como estão e a couve-flor não perde nada do que tem, enquanto devagarinho, o k vai ultrapassando perigosamente o J, o w estaciona em local proibido e o y, simplesmente, entra de repente entre o X e o Z. Mais seguro pegar um voo, de preferência, sem sentir enjoo. E, quando levar uma criança ao zoo, não repare na feiura (sem acento) das palavras que perderam o chapeuzinho que pousava como uma gaivota sobre a primeira vogal da dupla. Para os que creem no tal traço, não faça parte da plateia que sofre com a paranoia de engolir o risquinho, tal qual uma jiboia engole um ratinho. Na hora de parar, não vai dar pra saber se é do verbo que estão falando ou simplesmente, da preposição que vai na caixa de presente. Agora, difícil mesmo vai ser aguentar sem consequencia, a frequente eloquencia que dá sequência às mais de cinquenta vezes em que vou perder a tranquilidade quando não me restar dessa língua nem dois pontos sobre o "u": o meu querido trema.

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