segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Um poeta sem dor é um sofredor


A inspiração do poeta vem do pulso do seu coração. Coração que pulsa tranquilo não rende as mágoas para um bom emaranhado de palavras.

O poeta vive a angústia que motiva o ofício. Não que lhe faltem sentimentos quando lhe falta a agrura. Mas nos momentos de bonança, que graça tem chorar sobre um papel, um violão ou uma tela de computador?

Na penumbra de si mesmo, surgem as sombras que contam histórias, movimentam o enredo e dão vida à bela expressão de quem sofre sozinho, mas nunca calado.

A dor pode ser de amor. Seja o excesso que consome ou a falta que desnutre. A saudade também tem sua parcela dolorida. Assim como a angústia, a solidão ou a suspeita de uma traição.

Se tiram do poeta o lápis, tiram-lhe o pulmão. Se tiram a borracha, tiram a respiração. Se tiram-lhe o papel, arrancam seu coração.

Quando as palavras o tomam pra si enquanto ele se deixa levar, estabelece-se o pacto de fidelidade. Algo de muito terno faz do poeta sereno com a possibilidade de tê-las como companheiras para sempre.

Adoecer em uma rede e saber que elas estarão ao lado, repousando sobre a mesa de canto, com suas fórmulas curadoras traz a paz que o coração do poeta não quer. Devora-as publicamente, sem o menos dos pudores, em um menu repleto de nomes.

As palavras jogam-se sobre ele. Mas ele apenas as toca quando chora por uma dor.

Um comentário:

Sebastian. disse...

"Mas ele apenas as toca quando chora por uma dor."


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