domingo, 4 de abril de 2010

O Adeus


Enquanto caminhávamos rio abaixo, as quatro permanecíamos caladas. Virar-se de costa para a serra e despedir-se das águas que corriam deixava-nos todas sem palavras.

O caminhar esboçava o sentimento de quem vai, mas fica. Os passos descompassados mostravam a resistência em partir. A fila indiana era o abraço que não deveria ser interrompido. As pernas se alternavam com certa vontade de voltar para trás e sentarem-se cruzadas no chão de pedras esquentado pelo sol. O contato com a natureza, o sentimento de pertencer ao local, davam a dimensão do quanto se é pequeno ao pé de uma montanha. Mas também do quanto se pode ser grande perante a vida e as escolhas que fazemos.

O silêncio falava o que todas pensávamos. Aquele momento só existia ali, enquanto andávamos, pensativas. Em poucos minutos, nós nos dispersaríamos e nos restaria a lembrança das risadas, da água, do céu e da amizade sem fronteiras. Ao som do canto do rio, cantávamos em coro calado a felicidade de respirarmos o mesmo ar. O momento, um presente.

As águas que desciam a serra carregavam nossos medos. E nossos passos deixavam para trás a certeza de que aquele lugar será para sempre um ponto de força, um campo de sonhos. Os laços não descem pelo rio. Nem a alegria de saber que, como o rio jamas será o mesmo, nós jamais seremos as mesmas. O rio leva as dúvidas e traz a certeza de que sempre renovaremos nossos votos de vida. Pisando naquela rocha, ou lavando as pedras que carregamos em nossas mãos.

A água que leva a alma, lava um tanto do meu ser. A água que lava a alma, leva um tanto do meu ser.

3 comentários:

Iêda disse...

momento foi realmente um presente. As águas carregaram os medos e trouxeram novos horizontes, novas cores.
"A água que leva a alma, lava um tanto do meu ser. A água que lava a alma, leva um tanto do meu ser."

Thaís, obrigada por me proporcionar e fazer parte desse momento tão importante e vivo

Thais disse...

É isso mesmo querida, e que esse tanto que as águas lavam seja para deixar meu ser todo melhor.
Foi realmente estonteante saber o tanto grande de bem querer que nós compartilharnos em tão poucos três dias.
O reentronco de almas que se amam deixa claro que a vida vale mesmo a pena, porque pequeno é achar que não merecemos tudo que nos acontece, as pessoas que conhecemos, as escolhas que fazemos.
Somos autores da nossa vida, personagem principal (ou será personagens?) e junto com tudo isso, ainda temos que arrumar de sermos também os observadore, a platéia que critica e julga, mas que também reconhece as virtudes que nos cabe.
O melhor pra não se atrapalhar é sentir e seguir o rumo, ficar atento às curvas e ter maleabilidade pra contornar os obstáculos. No fundo, água mole em pedra dura tanto bate até que fura e vai moldando a vida como deve ser, deixando tudo mais suave,mais brando. Porém, se for preciso a água desce forte e arrasta o que te tiver na frente, o resultado no final é um rio mais limpo, mais revigorado, assim como foi o banho que tomamos aquele dia.
Estaremos sempre por aqui, seja qual for o rumo que a vida nos apresentar. E pra sempre estaremos juntas. Já é!!!

Aguardo uma visita mais longa.

Bjocas mil
Saudades muitas... já!

joao disse...

Um dia eu entendi que o rio, a rocha, o ar é tão parte de mim quanto eu sou dela. Este sentimento de pertencimento e de carinho que nutre nossa relação com o rio não é uma escolha só nossa, é do rio também. Muito bom que ele escolheu vocês para fazer parte da nossa historia!