terça-feira, 9 de junho de 2009

Para os que têm espírito largo e coração de poeta


Eu quase atravesso a rua quando avisto do outro lado, na calçada longínqua, crianças soltando pipa. Quase atravesso, porque atenho-me às cores que flutuam no céu de tal forma, que me esqueço de olhar pros lados. A pipa me atravessa e sou apenas um ser humano hipnotizado pelo pássaro cujas asas são as crianças e suas pernas ágeis.

Sento-me na grama, bem junto dos moleques animados e começo a entender porque é tão belo isso de deixar a pipa voar presa por uma linha na mão.

A pipa representa o mais belo da alma que existe em cada um de nós. Dar liberdade para essa beleza e deixá-la ir ao encontro do céu é um gesto de confiança inabalável. Saber que se pode perder a pipa a qualquer momento e, mesmo assim, lançá-la ao infinito é uma prova de muito amor.

A linha representa a noção de que algo nos conecta a essa beleza. É a linha tênue que define o laço que une, sem castigar. É o abrigo que damos ao belo, sem prendê-lo. É a forma que temos para demonstrar que nos preocupamos e que não deixamos o melhor de nós largado por aí. Não está largado, nem preso por garras firmes. Está solto, se quiser voar. Mas tem um caminho de pão na floresta, se quiser voltar.

A pipa dança pelo ar enquanto as pernas magras correm pra lá e pra cá na tentativa de não deixar sair do estado de graça a ave que ocupa o mais belo do céu, a mar azul de nossos seres, o mais alto que se pode ir com o olhar.

E os braços agitados ensaiam manobras por vezes arriscadas para dar à pipa a alma que o papel de seda não trouxe e nem trouxe o bambu. A rabiola de saco de supermercado baila como uma cauda de dragão e alimenta a imaginação de quem sonha baixo, porque os sonhos altos estão lá em cima, com a pipa.

Carinho na alma é soltar pipa todos os dias. Empunhar a linha e deixar fluir tudo de bom que há no mais íntimo do ser. Abrir as janelas, varrer a casa e deixar partir para o alto e avante tudo o que merece navegar na imensidão. Alargar o espírito e trazer poesia ao coração.

Deixar um pouco de nós voar é o melhor caminho para se chegar ao céu.
  

4 comentários:

Sebastian. disse...

De todos os "pássaros", uma coisa é certa: não há cura para o coração de um poeta!

th. disse...

"não há cura para o coração de um poeta!

Assino embaixo com todas as letras...

Os espíritos largos sabem do que estou falando. E quem não souber, que conte outra!

Restaurante Panelinha disse...

Minha mais nova e querida amiga,

Que presente ler seu blog logo de amanhã! Meu dia se encheu de poesia por causa disso.
Tomara que seu blog alcance mais e mais pessoas, assim poderá compartilhar com muitos o seu dom de cronista-poeta, ou seria poeta-cronista? De qualquer maneira de valer a pena, você transita nesse binônimo maravilhoso, causando-nos essa maravilhosa conFUSAO.... Ah, deveria ter registrado isso lá. Vou ver como faço.

Abraço, aquele conforme se referiu Thais em Nunca ganhei um beijo. Fica com Deus!

Gelson

Anônimo disse...

Tataaaaaaaaa!!!
Menina...pra te falar com sinceridade é a primeira vez que entro em seu blog.Estou impressionado!!!Parabéns mesmo!
Tô aqui ainda tentando interpretar algumas de suas frases!Sei que estou sumidaçoooo!Mas passei aqui pra registrar minha presença!
Beijos!!!Guilherme Boró