segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Porque sorrisos não dão em árvore" ou "A insustentável leveza do sorriso"


Quando andares pelos campos, busque as flores e não sorrisos. Sorrisos não nascem em árvores e não sobram de bandeja.

Assim como os bons sentimentos, hão de ser cultivados e não arrancados à força como se já viessem prontos em uma prateleira. Para se fazer sorrir não basta esticar os lábios e mostrar os dentes. É necessário fazer eclodir a sincera felicidade, fazer brotar a magia da mais singela demonstração de alegria.

Sorriso mecânico é amarelo, não tem cor de ser. Sorrir é coisa que vem do fundo, percorrendo todo o nosso corpo para fazer cada pedacinho de nós se agitar. Quando sorriem os lábios, sorri o coração e tudo o mais que aplaude ritmicamente o nosso simples existir.

Para viver o que, de fato, existe, sem criar coisas que não existem, nós precisamos alinhar nossos anseios. É preciso ler a partitura para tocar a música sem sair do tom.

Os sorrisos são o espelho que reflete aquilo que se vê em encanto. Uma criança brincando, um abraço apertado, um balanço no parque, um pipoqueiro na porta do cinema, um cobertor no frio.

Assim como o inusitado, chegam sem convite os sorrisos. E nunca chegam pra ficar. Porque sorriso tem prazo de validade. Tem que cultivar pra fonte nunca secar. A capacidade de sorrir nunca vence, mas não a deixe de lado porque vira bicho do mato, com aquela ruga na testa de gente que não ri, nem sorri e fica por demais ensimesmado.

Porque sorrir é uma arte. Pode-se sorrir a qualquer hora, em qualquer lugar. Mas aquele sorriso que outrora espantava toda e qualquer dor, de repente alaga-se em um choro bruto quando se deixa partir. E às vezes ele se vai e nos deixa sem sorrir.

E é tarefa nossa, os meros sorridentes, não se fechar pro fascínio do simples olhar que se expande num gesto em que os lábios dizem o que tudo em nós fala. O sorriso atento capta a sinestesia no ar. O toque que traz o frio e faz o olho virar. O beijo que o olho viu e fez o corpo arrepiar.

Nunca negue passagem a um sorriso. Deixe ele te atravessar. Sorriso é bálsamo pra qualquer doença, do corpo ou da alma. Sorrindo curam-se perdas e danos. Seja ele um curto sorriso de canto de boca em meio ao pranto, seja ele uma longa gargalhada que não se dá sozinho, o fim de um sorriso marca o tempo de sorrir de novo. Porque sorriso é perecível, mas a alegria não.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa Thais, até arrepiei!
Vou lendo aos poucos no trabalho.
Engraçado que me veio o contrário à mente. O tanto que a gente "desperdiça" sorriso. Como aquela história de quem tem medo de "gastar a sorte".
A gente ri sem vibrar tantas vezes... e às vezes percebe que está sorrindo pouco, que a ruga na testa está mais nítida, e começa a dar um monte de sorrisos amarelos, pra ver se a vibração vem de fora pra dentro.
Às vezes funciona...
Mas acho que a grande busca é a verdade em tudo aquilo que expressamos.
Que tenham significados os nossos sorrisos!
Que eles digam: oi, adoro quando encontro vc! nossa, como é bom esse quentinho quando sinto frio! me sinto tão bem exatamente onde estou, com quem estou, e quando estou!

Beijo lindeza!
Carol (Ruiva)