quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Das gavetas, nascem os ipês


Abrir gavetas é libertar a matéria estacionada de vidas que cabem em uma só. Significa dar ao pó a chance de sair ao invés de entrar. Abrir gavetas é a arte de saber aguardar quando a vida te oferece um trampolim para pular. Encher a mão de areia e sentir os grãos escorregarem. É assoprar o amendoim para todas as cascas voarem. 

Saber escolher, saber responder. Aprender a deixar pra trás. A despedir. A abraçar sem esperanças de reencontrar. É dizer adeus com o coração cheio de dor sem saber se há depois. Às vezes é melhor embarcar. Às vezes é melhor perder a hora. Às vezes é melhor ficar de longe e ver as partidas. Aprende-se muito quando faz sentido deixar ir. 

Aproximar-se de semelhantes. Somar idéias e ideais em prol de algo grande, que cresce junto. Dialogar em línguas que se entendem. Dizer meias-palavras e ganhar frases inteiras em troca. Unir o que se acredita com o que pode acontecer. Dizer não quando algo diz que é melhor assim, mas também saber dizer sim.

Um belo dia a gente sente que o mundo parou. Pararam os carros nas ruas. As pessoas pararam. Estão parados os olhares. Está tudo coberto por uma casca que inibe a livre expressão. Nesse momento, compreendemos que mexer os olhos faz os olhos do outro também mexerem. Se dançarmos, o outro dança. Se caminharmos, o outro caminha. E podemos dar o ritmo de nosso passo ao mundo. Ao nosso mundo.

Abrir gavetas muitas vezes abre portas. Traz pra vida a poesia em forma de mãos. Mãos que se atam num enredo em que faz todo sentido bater o carro porque a mente cansou de dirigir e foi ali admirar um ipê.

2 comentários:

Unknown disse...

ADOREIIIIIIIIIIIIIIIIIII jornalista!!! Vou ler todos com calma depois... muito bom mesmo...
Saudades de vc!!!! Vamos encontrar hj no Na Venda???????????
Beijosssssssss,
Marceleza... Marcelinha(Mabel)

F@! disse...

Linda.

Tem qualquer coisa aí sobre encontros, cumplicidade e reconhecimento que faz todo o sentido pra descrever o que tem sido você na minha vida esses últimos tempos. Se observarmos os desenhos que a cera dos candelabros produzem numa noite Moulin Rouge, a outra observa... Gracias, cariño!