quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Regra de três simples: este está para esse, assim como esse está para aquele. E você, está pra onde?


Hoje eu acordei com vontade de fazer diferente. 

Parei de insultar os políticos. De agora em diante, vou prestar atenção em tudo o que faço de transgressor. Do troco que veio a mais e eu não devolvi até a mentira sobre a idade das crianças pra pagar menos (ainda as obriguei a confirmar a mentira. Que exemplo!). Antes de falar que os políticos roubam, vou me lembrar que eu compro CD's piratas e que eu falsificava minha identidade pra entrar nas boates antes dos 18.

Parei de citar as inúmeras catástofres conseqüentes do aquecimento global. De agora em diante, vou separar meu lixo, fazer uma composteira, comprar menos, dar prioridade a produtos orgânicos e embalagens bio-degradáveis. Nada de pegar sacola plástica no supermercado, nem comprar produtos que venham em bandeijas de isopor. Os passarinhos, fora da gaiola, por favor. E se você não gosta de animais domésticos, como eu, não crie um mal-criado deixando pro seu filho uma noção errada do que é amor à natureza.

Parei de falar da falta de qualidade do ensino público nas escolas do Brasil. De agora em diante, vou juntar um grupo de amigos e montar oficinas de apoio pedagógico e recreação para auxiliar o processo educativo das crianças com dificuldade ou defasagem nos estudos. Não dá pra suprir a carência de uma escola, mas dá pra trazer muito aprendizado pra dentro da vida de muitos deles. Nem sempre o que falta é o conteúdo massivo da escola. Muitas vezes falta colo, conversa e lazer. Tem horas que uma folha de papel e um lápis de colorir podem ser grandes amigos de quem não acha que brincar é coisa séria.

Parei de me envolver com as injustiças sociais a cada esquina. De agora em diante, vou olhar pelas pessoas mais necessitadas que estão ao meu redor. É uma forma de entender um pouco mais a realidade deles e poder fazer algo efetivo por alguém com dificuldades. Com os olhos voltados para fora da janela do carro, nem sempre percebo que as pessoas mais próximas podem precisar, e muito, de ajuda. Um gesto efetivo significa mais do que mil palavras.

Parei de rotular as pessoas por uma atitude ou comentário que me repugnou. De agora em diante, vou me esforçar pra ver o ser humano por trás daquilo que me incomoda. Quantas vezes somos vítimas de nossas próprias palavras e consideraríamos tremendamente injusto se nos transformassem no erro que cometemos? Existe gente além dos erros. Não estamos mais certos porque já superamos alguns medos, feridas ou preconceitos. E quem disse que a nossa intolerância tem mais mérito do que os pequenos deslizes alheios?

Parei de dizer que "O Brasil não vai pra frente". De agora em diante, vou me espelhar em iniciativas construtivas. Tem muita gente trabalhando por um mundo melhor, engajada em projetos sociais, ONGs, associações e muito mais. Antes de reclamar de um serviço ou de uma atitude e assumir que o país não funciona, vou procurar conhecer exemplos que deram certo. 

Parei de dizer que alguma coisa é importada, com a boca cheia de orgulho. De agora em diante, vou abraçar o que é nosso. Esses artigos vêm com uma enorme etiqueta que atesta a procedência estrangeira, como se qualquer coisa que vem de fora fosse melhor do que os legítimos MADE IN BRAZIL. Além disso, em sua maioria, essas mercadorias vêm de países pobres que não contam com leis trabalhistas e aproveitam-se da exploração de mão-de-obra barata. Um desrespeito àqueles que produzem e à qualidade do que é nosso.

Parei de reclamar da sujeira da rua enquanto eu não começar a catar cada papel que vejo jogado pelo chão. De agora em diante, é sacolinha de lixo no bolso, na bolsa, no carro e mãos à obra! Até eu assumir que os espaços que eu ocupo são, em alguma proporção, responsabilidade minha, prometo ficar de bico calado. Vale organizar mutirão, buzinar pro carro ao lado que jogou lixo na rua, ensinar as crianças a guardarem o papel de bala no bolso se não tiver lixeira. Vale qualquer atitude, só não vale ficar parado.

Parei de juntar roupa no armário. De agora em diante, tudo o que eu não "amo", vai ser de alguém que vai "amar". Porque é bom esse tal de desapego. Dá um alívio ver o guarda-roupa cheio de espaços e saber que pessoas estão dando utilidade a coisas que estavam estacionadas em nossas vidas. Dá uma levantada no astral, uma sacudida na poeira. O resultado final é a volta por cima.

Parei de fazer perguntas pras crianças sobre "namorados", azul e vermelho, bailarina e bombeiro. De agora em diante, vou apresentar a elas um mundo de sensações mais legítimas. Elas assistem jornal, cenas de seqüestro ao vivo, beijos calientes, crimes, além de serem estimuladas por um consumo ferrenho. Meu papel vai ser ensinar a montar quebra-cabeça, falar de fadas, princesas, dragões e mundos imaginários. Nada de antecipar a maturidade, ainda mais encaixando-as em estereótipos que possam vir a oprimí-las no futuro. Criança é criança. Não tem que achar que existe brincadeira de menino ou de menina, que existe cor de menino ou de menina. Elas têm que descobrir o mundo através da ingenuidade que nós perdemos com o passar do tempo.

Sei que não é fácil incorporar tantas resoluções. Tem coisas que eu já faço. Tem coisas que eu nunca fiz. Tem coisas que eu quero começar a fazer logo. Estou falando de mim e de você. Estou falando de agir sem pensar, de atitudes inconseqüentes, de vícios incorporados ao dia-a-dia. Falo de exemplos, de construção de caráter. Quero dizer que as coisas estão mais dentro do que fora. Que tal começar esta viagem interna? Dá pra repensar certos padrões, não dá? O mundo tá passando. O tempo não pára nem para dormirmos. Ou a gente pega carona nessa cauda de cometa, ou a vida passa por nós sem que tenhamos plantado uma árvore ou dado um abraço apertado em alguém. 

Você tem uma resolução pra hoje?

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