terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Despertar


De tanto tentar se encontrar, perdeu-se de si mesmo. Deixou a cargo de mãos que não as dele o controle de uma vida que já não mais lhe pertencia. O caminho já não era claro e o rumo a tomar, totalmente incerto. A mente absorta carregava-se de pensamentos e não mais enxergava luzes. Tudo escuro. A mão que não era dele tateava a cama procurando o que não conseguia achar. Acordou de uma realidade onírica em que nada se via além de neblina. Esfregou os olhos e caminhou trôpego até o espelho do banheiro. Na última vez que havia encarado a si mesmo ela não estava ali. A barba grande demonstrava o passar do tempo. O cheiro acre do ar denunciava a ausência de afeto. As janelas fechadas há dias ansiavam abrir-se à inundação do vento. A geladeira vazia, presenteava-lhe com uma garrafa de água pela metade.

Naquela hora, escolheu viver. Nem mais um suspiro.

Da barba não restou nem mais um fio. O ar exalava perfumes inspiradores. Brotavam, sobre a mesa, de dentro das garrafas, flores.

Do entorpecimento, restavam-lhe vazios. Não conseguia reconstruir o passado. Mas ocupou-se do presente esperando pelos louros do futuro.

Sentar de nada adiantava. Pôs-se de pé e mirou o horizonte. Os calos nos pés já não doíam mais. Caminhava rumo ao desconhecido sem medo de enfrentar o maior dos desafios. Corou ao ver pessoas a sorrir-lhe. Abriu o peito e marchou sem cessar. O vento no rosto alimentava seu íntimo amanhecer. Não sabia o que era dor. Não sabia o que era prazer. Mas sabia como poucos o que poucos sabem. Ele sabia querer.

Nenhum comentário: