quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Não começou ontem. Começou muito antes de ontem. Começou lá no começo. E só vai acabar no fim.


Por que o assombro? Não, você não está diferente. Está com a mesma cara de ontem. Nem mais gorda, nem mais magra. Ainda de pijama. O cabelo despenteado. O mesmo cabelo, porém despenteado. Ainda está na pia a louça que usou no jantar. O copo d`água está pela metade em sua cabeceira. Nada mudou.

Entre o antes e o agora, passou apenas uma noite. Uma noite. O que pode mudar em uma noite? Olhe para você: o mesmo pijama! O pijama em que falta o botão da terceira casa, de baixo pra cima e deixa o seu umbigo à mostra. E que está com a manga esquerda descosturada. Não, você não está diferente.

Salvo o sol que chega e a lua que se vai, num giro de dor em que a Terra busca algo sem nunca encontrar, continua tudo igual. O orvalho sobre a folha verde da planta denuncia o escuro que passou para abrir-se em um largo sorriso iluminado. A luz abriga o conforto de se ver. O escuro abriga o tato, abriga o viver.

E o que faço eu com a noite que nada muda, quando eu acordo com tudo tão diferente que eu me calo, me mudo, me faço muda?

Eu sei que alguma coisa mudou. Uma criança nasceu e mudou a vida de uma mãe. O telefone tocou com a notícia de algum parente que faleceu e mudou uma família. Os pais esqueceram que era aniversário do filho e mudaram o sentido daquela data. Você perdeu o vôo e mudou a sua chance de sentar ao lado de uma pessoa sensacional. A chuva derrubou o muro da sua casa e mudou os planos para as férias. Uma pedra rolou e mudou o curso de um rio.

Você esqueceu-se de olhar pro lado e não viu o vizinho com quem brincava quando era criança. Decidiu ir para a esquerda e chegou atrasada. Fez uma piada boba e perdeu o amigo. Pegou um engarrafamento e não assistiu ao mais belo pôr-do-sol. Reparou quando aquela pessoa passava e não puxou conversa. Dormiu até mais tarde e perdeu o passeio com os amigos. Quando tomou coragem para despedir-se, ela já havia partido. Ficou confuso com o calendário e chegou pra um encontro histórico no dia seguinte. Envolveu-se com o filme e esqueceu o jantar no forno. Disse sim quando queria dizer não. Esperou o primeiro passo e tornou a espera mútua.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei demais!
Tudo muda a todo instante, mesmo que a gente não consiga perceber.
Aí a Teoria do Caos!
Beijo!