quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Hiperbólica notívaga divaga


Acordei no meio da noite. Tinha que escrever. Algo pulsava em mim e eu queria deixar sair. As mãos sobre o teclado revelam o desespero em apagar o branco da tela com as letras que a preenchem. O lápis e o papel, companheiros de todas as horas e palavras suplicam sua participação. Suplicam em vão. No meio da madrugada não cabem intermediários. Cabe apenas eu e a tela. Eu dizendo e ela ouvindo. E, neste momento, pouco importa o caminho das frases. Importa, sim, extravasar a conquista de mais uma conquista. Dividir com quem quer que seja essa sensação de me apoderar de mim mesma e governar tudo isso que sou eu.

O navio ganha um capitão e minha percepção ganha novos contornos. Vamos navegar na mesma corrente, com o timão apontado certeiramente pro rumo eleito em comum acordo por todas as partes de mim. São muitas mulheres berrando: siga em frente! E não sei quem fala mais alto.

Se é a menina moleca que adora dormir de pijama de flanela. Ou a garota irreverente que arrebanha risadas dos amigos. Pode ser que seja a mulher obstinada que vislumbra um caminho profissional. Ou até mesmo a moça frágil que às vezes fica calada e põe-se a chorar. Não estranharia se fosse a voluptuosa fêmea, que clama por uma paixão. Ou ainda a hedonista criança que não se cansa dos prazeres infinitos. Pode bem ser que o grito seja um eco da abafada voz da ingênua adolescente, que descobriu muitas coisas do mundo tardiamente. Ou seja apenas a reclamação aturdida do tão calado sussuro outrora esquecido. Podem ser pensamentos ultrapassados tentando ganhar o mundo. Pode ser um suspiro que virou soluço.

Mas não importa! Não importa quem fala mais alto. Existem milhares de mulheres dentro de uma só. E essas mulheres pedem passagem. Pedem espaço e marcham resolutas. "Siga em frente! Sempre em frente! "

Entendi que era hora de me livrar dos problemas e sonhar livremente. Olhar pra mim. Reconhecer-me em mim. Não negar nada daquilo que eu sou. Fitar o espelho. Vejo aonde está cada pinta, cada mancha, cada cicatriz. Mapeio-me por completo. Caminho por minha geografia. Subo os morros, caio nos buracos, pulo as depressões. Passeio pelo relevo que há em mim, que sou eu, que é meu corpo, minha alma. Aprendo a navegar por minhas costas, estas que mal enxergo. Viajo pela nuca e sinto que me pertence esse pedaço de mim pra que esqueço de olhar. Danço por entre as coxas, as pernas que me guiam. Dou um pulo dentro do meu umbigo e mergulho nas minhas entranhas, em tudo o que há de essencial em mim. Vou aprendendo o caminho da minha dor e do meu prazer. Preciso saber guiar-me por mim. Mapear o que há aqui, o que há em mim mesma que nem mesmo pra mim revelou existir.

Cuido desse oceano sem mar para deixar a água me lavar. O gosto do sal que me leve. O porto é uma conseqüência, viajar é ancorar.

Já disse que gosto de andar de pedalinho?

2 comentários:

... disse...

Não me veja com essa estória de pedalinho. Pelas tuas palavras, vc gosta mesmo de andar de montanha russa! Adorei as tuas letras.. lindoo demais! Vou te linkar tá???

beijo

Guga disse...

também sou assim, sem medo de viver, sentir me traz alegria.....que bom Thá que somos amigas....beijo Sandra