terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Hoje é dia de ser brasileiro?


Ergam suas bandeiras, vistam seus uniformes. Vamos às ruas bradar em alto e bom tom: Brasil!

É Copa do Mundo! Momento em que todos se unem em prol de algo maior. É a força dos brasileiros tornando milhões de gritos em uníssono. É o individualismo sendo jogado pra escanteio e o coletivo entrando em campo. É o apogeu do sentimento de que todos juntos somos "um" maior e mais poderoso. É a glória de ser mais brasileiro por um mês a cada quatro anos. Ao fim dos jogos, depois de alguns dias, as bandeiras vão sendo timidamente recolhidas, as camisas verde-amarelas vão sendo guardadas no fim da pilha no guarda-roupa e não se fala mais nisso pelos próximos quatro anos. É a paixão pelo futebol travestida de nacionalismo invadindo as casas, devorando nossas horas, dominando a televisão.


De certa forma, o que tem acontecido em Santa Catarina reavivou o sentimento que aflora em nós, brasileiros, durante a Copa. Incrível a quantidade de ações comunitárias em prol do bem-estar daquelas pessoas que se viram desabrigadas após o pavor da chuva. Temos sim, que ajudar a cada um dos desabrigados lá do Sul. Temos que enviar roupas, comida, água! Temos que mobilizar o exército, os bombeiros, a sociedade civil. Temos que mostrar para nossos irmãos que eles têm o nosso apoio e que lamentamos muito tudo o que acontece por lá.

Realizo-me enquanto brasileira vendo partir de tantas pessoas, de tantos lugares essa corrente de auxílio. É bonito de ver essa vontade que brota em nós, que estamos do lado de cá, de ajudar aos que precisam, do lado de lá. Mas acho de extrema importância ressaltar a necessidade de uma tomada de consciência sobre a condição em que se encontra a maioria das pessoas de nosso país que vive diariamente o que Santa Catarina enfrenta há duas semanas.

Que não ergamos nossas bandeiras somente agora que a chuva caiu. Que possamos erguer bandeiras e vestir a camisa para ajudar as vítimas da falta de chuva no sertão nordestino, os povos ribeirinhos da Amazônia, as inúmeras famílias que vivem em favelas e nas ruas em condições sub-humanas. Que não deixemos de nos comover com as adversidades diárias, como as escolas sucateadas em que nossas crianças ficam sem merenda, as creches carentes de alimentos e recursos básicos, os hospitais sem leitos e sem médicos para atender nossos doentes, os centro de recuperação de dependentes químicos onde sequer há roupas para vestir os que procuram ajuda.

Que Santa Catarina sirva como ponto de partida para uma sociedade mais humanitária. Que não recolhamos nossas bandeiras. Que não nos esqueçamos dos laços verde-amarelos que nos unem a tantos outros necessitados. Que não falemos disso novamente apenas na próxima enchente. Sejamos mais brasileiros. Sejamos mais humanos. Olhemos para o próximo sob qualquer condição, debaixo d'água ou não. Que o nosso sentimento nacionalista não fique à mercê das marés que vêm e vão. Coloquemo-lo em terra firme, atuante sob qualquer adversidade, em qualquer estação.

Texto escrito em 04/12/08, no auge das enchentes, antes do blog existir.

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